PRODUTO INTERNO BRUTO: O QUE NOS DIZ REALMENTE?

Para que serve esse indicador econômico tão famoso?

Hoje vamos falar sobre o PIB, um dos indicadores econômicos que mais faz barulho nas mídias.

O Produto Interno Bruto – PIB, calculado pelo IBGE, mostra a produção de bens e serviços finais produzidos em um país ou cidade ou estado, durante um período, na sua moeda.

O IBGE segue a metodologia internacional do Sistema de Contas Nacionais[1], ou seja, não é o governo federal que diz como o PIB deve ser calculado. Inclusive, as metodologias internacionais são adotadas para padronizar as estatísticas dos países permitindo uma comparação entre os indicadores econômicos e sociais desses países, além de dar credibilidade aos órgãos estatísticos dos respectivos países.

O IBGE utiliza fontes como as pesquisas produzidas pelo instituto[2] assim como dados provenientes de fontes externas (Balanço de Pagamentos do Banco Central e Imposto de renda da Receita Federal por exemplo).

Uma confusão que costuma acontecer é chamar o PIB de “soma das riquezas”. Esse conceito é equivocado já que o intuito do PIB é mensurar a quantidade de bens e serviços que foi produzida em um determinado período (3 meses ou 12 meses, por exemplo). Ele é uma medida de fluxo e não de estoque. Falar em riqueza produzida remete à ideia de estoque de valor, ou seja, é como se o PIB fosse um a espécie de tesouro nacional. Se o país não produzir nada durante 1 ano, o PIB nesse período será zero, portanto, não pode ser chamado de riqueza.

Para calcular o PIB, os gastos com insumos ou matéria-prima (que chamamos de consumo intermediário) usados durante o processo de produção de um bem ou serviço devem ser descontados para evitar a dupla contagem. Para entender melhor entender esse conceito, vamos usar o famoso exemplo do pão.

Para fazer um pão, o padeiro precisa comprar farinha de trigo que, por sua vez, é feita a partir do trigo. Portanto, para entender o quanto a produção de pães no Brasil contribuiu para o PIB é preciso descontar o custo da farinha de trigo (e, para medir a contribuição da produção de farinha, é preciso descontar o gasto com trigo).

Valor Adicionado = Valor Bruto da Produção – Consumo Intermediário

Onde o valor bruto da produção do pão é R$500 e o custo da farinha é R$150 e do trigo R$ 50.

O trigo foi produzido na fazenda e vendido como insumo para produzir a farinha que, por sua vez, servirá de matéria prima para a produção do pão. Logo, o valor gerado pela produção de pães (valor adicionado) é de R$ 350. Se a gente incluir o custo da farinha e do trigo, vai haver dupla contagem pois a produção de farinha e de trigo já foi computada lá atrás.

Esse valor gerado pela produção de pães é chamado de valor adicionado, ou seja, é a contribuição da atividade econômica Produção de pães para formar o PIB. Ele é calculado através da diferença entre o valor de produção e o consumo intermediário dessas atividades.

Mas então o PIB é a soma dos valores adicionados de cada atividade econômica ou setor? Não! Na verdade, o PIB é a soma dos valores adicionados brutos por todos os setores da economia acrescentando o valor dos impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos não incluídos na valoração da produção[3]. Esse valor adicionado é chamado de valor adicionado bruto, porque parte dele é usada para cobrir os gastos com o desgaste das máquinas usadas na produção (depreciação). Sem isso, ele seria um valor adicionado líquido.

A produção de automóveis por exemplo envolve gastos com pneus, aço, eletricidade e outras despesas. Na hora de calcular o valor gerado (ou adicionado) pela produção de carros na economia, temos que descontar o custo com os insumos. O valor da produção de pneus já foi incluído no cálculo do PIB, ou seja, não excluir os gastos com insumos dos carros levaria a uma dupla contagem.

Um paciente atendido em um hospital (um serviço de saúde) pode realizar exames e tomar medicamentos, por exemplo. Tudo isso é consumo intermediário.

Tudo que é produzido nas unidades locais[4] vai ser consumido, ou estocado ou usado como investimento (quando se produz uma máquina, por exemplo). Portanto, o PIB corresponde ao somatório dos usos finais de bens e serviços a preço de mercado (o que inclui os gastos com margem de transporte, margem de comércio e impostos) sendo, também, igual à soma das rendas primárias[5].

O PIB pode ser calculado a partir de três óticas:

  • Ótica da produção:

Por essa ótica, o PIB é igual ao somatório do valor da produção de todas as atividades econômicas menos o consumo intermediário dessas atividades mais os impostos (líquidos de subsídios) sobre os produtos não contidos no valor da produção;

  • Ótica da demanda:

Nessa ótica, o PIB é igual à despesa de consumo final mais a formação bruta de capital fixo (FBCF/investimento) mais a variação de estoques mais as exportações de bens e serviços menos as importações de bens e serviços;

  • Ótica da renda:

Calculado dessa forma, o PIB é igual à remuneração dos empregados mais o total dos impostos (excluindo os subsídios) sobre a produção e a importação mais o rendimento misto bruto mais o excedente operacional bruto.

O que é o rendimento misto bruto?

O Rendimento misto bruto é o rendimento dos autônomos: é a remuneração recebida por eles. No caso dos autônomos, não é possível separar a renda que vem do capital (ativos utilizados na produção) da renda que vem do trabalho. São exemplos de profissionais autônomos: pintores, eletricistas e cabeleireiros.

E o excedente operacional bruto – EOB?

O valor gerado pelas atividades econômicas remunera os fatores de produção (capital e trabalho). Esse valor adicionado inclui também impostos e contribuições sobre os salários. O EOB é obtido por saldo, subtraindo do valor adicionado as remunerações e impostos sobre a atividade, ou seja, ele corresponde à contribuição do capital para a produção.

 

PIB corrente X PIB real

Outro ponto importante é saber a diferença entre PIB real e nominal. O PIB, em 2020, foi de R$ 7,4 trilhões em valores correntes (valor nominal), mas para ter ideia do crescimento de fato do PIB é preciso descontar a variação de preços, ou seja, o efeito da inflação. Em termos de quantidade (ou volume) o PIB caiu 4,4% em 2020 (valor constante). Essa análise é importante pois o efeito da inflação pode levar a interpretações erradas sobre o comportamento das atividades econômicas durante o período analisado.

 

O PIB como indicador econômico

Por último, é importante entender a relevância desse indicador econômico.

O PIB mostra a renda gerada em um país e sua variação mostra o crescimento econômico desse país durante um tempo. É possível analisar a evolução do PIB entre os países ao longo do tempo e analisar o crescimento das principais atividades econômicas desse país.

O PIB per capita, por exemplo, mostra a divisão do PIB total pelo número de habitantes de um país. Segundo a OECD[6], Luxemburgo, Singapura e Irlanda possuíam os maiores PIB per capita em 2020.

É importante lembrar que o PIB, como indicador, não mede qualidade de vida, concentração de renda, desenvolvimento econômico e os níveis de educação e saúde da população. É possível um país ter um PIB alto e um padrão de vida baixo ou vice-versa. A Índia[7] por exemplo possui um PIB elevadíssimo e uma população com baixa qualidade de vida. O PIB é considerado um dos indicadores econômicos mais importantes para analisar o crescimento econômico de um país e compará-lo ao de outros países.

REFERÊNCIAS

https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30165-pib-cai-4-1-em-2020-e-fecha-o-ano-em-r-7-4-trilhoes

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/comercio/9052-sistema-de-contas-nacionais-brasil.html?=&t=o-que-e

 

[1]O System of National Accounts (SNA 2008) é um manual internacional com um conjunto de medidas padronizadas para mensurar as atividades econômicas de um país. Para mais informações ver: https://unstats.un.org/unsd/nationalaccount/hsna.asp

[2] Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA; Produção Agrícola Municipal – PAM; Pesquisa Anual de Comércio – PAC; Pesquisa Anual de Serviços – PAS; Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF; Pesquisa Industrial Anual – Empresa – PIA-Empresa; Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física – PIM-PF ; Pesquisa Mensal de Comércio – PMC; Pesquisa Mensal de Serviços – PMS e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD

[3]https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101766_notas_tecnicas.pdf

[4] Local onde uma empresa realiza sua produção.

[5]São as rendas proveniente do processo de produção ou da propriedade de ativos necessários à produção (salários, juros, aluguéis).

[6]https://data.oecd.org/gdp/gross-domestic-product-gdp.htm

[7]https://data.oecd.org/gdp/gross-domestic-product-gdp.htm

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Tassia Gazé Holguin é economista com mestrado em saúde coletiva pela UFRJ e doutorado em economia pela UFRJ.
Atualmente, trabalha na coordenação das Contas Nacionais no IBGE, sendo uma das responsáveis pela Conta Satélite de Saúde.
Tem experiência na área de economia da saúde.